sexta-feira, setembro 01, 2006

Metade


Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca.Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.
Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que tristeza.Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada, mesmo que distante.Porque metade de mim é partido mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor,Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.E que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.Porque metade de mim é o que penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.E que o teu silêncio me fale cada vez mais.Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.Porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada.Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.


(letra da música "Metade" de Oswaldo Montenegro)

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